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Uma posse diferente para o Brasil e para Lula

Lula é recebido com sobriedade pela opinião pública ainda politraumatizada com quatro anos de Bolsonaro. Tudo é inédito, para o Brasil e para Lula

Sérgio Abranches, para Headline Ideias
1 de jan. de 234 min de leitura
Lula acena para apoiadores acompanhado de sua esposa Rosangela da Silva, a Janja, seu vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e sua esposa, Maria Lucia Ribeiro Alckmin, em caminho do Congresso Nacional para a cerimônia de posse, em Brasília. Foto: Douglas Magno/AFP
Sérgio Abranches, para Headline Ideias1 de jan. de 234 min de leitura

Lula está sendo recebido pela opinião pública com sobriedade. Segundo o Datafolha, 49% esperam um governo ótimo ou bom, e 51% que será melhor do que o governo de Bolsonaro.

Na primeira posse de Lula, em 2003, 76% tinham expectativa positiva para o seu governo. Fernando Henrique Cardoso havia assumido, em 1993, com 70% esperando um governo ótimo ou bom. Até Bolsonaro, que fez o pior governo da república iniciada em 1988, começou com 65% esperando um bom governo.

Por que as esperanças da população estão mais baixas agora? Lula não é novidade. É um retorno inédito e surpreendente. Mas, por ser conhecido, está sendo julgado pelo conjunto de sua obra. Até mostrar resultados novos.

Brasília em clima de festa, apesar do antipetismo

O antipetismo aumentou. Bolsonaro alimentou este sentimento de rejeição ao PT por todo o seu governo. O brasileiro está curtido pelas decepções pós-eleitorais. Vai esperar para ver se Lula cumpre o que prometeu, reduzir a fome e a desiguldade, recuperar a capacidade de crescimento da economia, fazer um governo de união e pacificação. As expectativas e a popularidade de Lula crescerão à medida que os resultados surgirem.

Mas, a multidão que já enche a praça dos Três Poderes, duas horas antes de começar a cerimônia de posse, não tem nada de sóbria. Brasília vive clima de festa e distensão. Pessoas, famílias, militantes e eleitores que votaram pela democracia, mais do pelo PT, se mostram animadíssimas. Há camisetas com frases celebrando Lula e o PT e outras, a democracia. Em meio ao vermelho, que ficou interditado por quatro anos, há bandeiras do Brasil e muito branco.

Apoiadora faz o L ao chegar à Esplanada dos Ministérios para participar da cerimônia de posse em Brasília. Foto: Douglas Magno/AFP
Apoiadora faz o L ao chegar à Esplanada dos Ministérios para participar da cerimônia de posse em Brasília. Foto: Douglas Magno/AFP

Nos voos para Brasília, cheios de militantes, os passageiros cantavam músicas alusivas às campanhas de Lula e o hit do ano, a música de Juliano Maderada e Tiago Doidão “Tá na hora”, cujo refrão é “Tá na hora do Jair, tá na hora do Jair… Já ir embora”. É natural que a parcela mais politizada e mobilizada da população e aqueles que sabem que a democracia é um bem inestimável, estejam mais animados do que a média da população.

Lula começará a mostrar o que trará de novo após todas as suas experiências e do percurso de superação, da prisão a uma inédita terceira posse, assim que, empossado, se dirigir aos brasileiros, como presidente da República.

Posse lotada

Lula desfilou em carro aberto, porque a segurança foi tranquila. Foi ovacionado na Esplanada dos Ministérios e no Congresso.

Uma hora antes de Lula deixar o hotel para tomar posse como presidente da República, os responsáveis pela segurança fecharam a praça dos Três Poderes, porque já havia chegado à lotação máxima de pessoas naquele perímetro. O limite é de 40 mil pessoas.

Na Esplanada dos Ministérios, que fica à frente do Congresso Nacional, mas sem visão da praça dos Três Poderes, é grande a multidão e a lotação esperada é de 300 mil pessoas. É na Esplanada que estão montados os palcos para o grande show que se seguirá às formalidades da posse.

Ainda segundo a equipe de segurança o clima é de tranquilidade e festa, sem incidentes importantes. Provavelmente, a tranquilidade e a ausência de eventos contribuíram para que Lula decidisse desfilar no Rolls Royce conversível.

As delegações estrangeiras já estão chegando ao Congresso Nacional. Às 14:15 hrs o rei da Espanha chegou ao Congresso e, logo, em seguida, o presidente de Portugal.

Lula, no Rolls Royce, levantou a multidão, quando o cortejo presidencial se aproximou dela na Espalanda dos Ministérios. Ele quebrou o protocolo ao convidar o vice-presidente e sua esposa para irem com ele e Janja da Silva no carro aberto.

* Sérgio Abranches é sociólogo, cientista político e escritor. É autor de “Presidencialismo de coalizão”.