Conecte-se

Ideias

#CULTURA

Rita Única Lee

Rita Lee evidentemente não morre. Só foi andando, sem pensar em voltar e nem ligar para o que lhe aconteceu. Rita Lee era única

Sérgio Abranches, para Headline Ideias
#CULTURA 10 de mai. de 232 min de leitura
Rita Lee se apresentando no programa de Serginho Groisman, em 2012. Foto: Marcos Mazini/ TV Globo/ AFP
Sérgio Abranches, para Headline Ideias10 de mai. de 232 min de leitura

Rita Lee evidentemente não morre. Só a pessoa física se vai. A Rita Lee que era uma Rolling Stone, podia ser uma Sharon Stone, louca, normal, que já estava em paz, esta vira lenda.

Se o mundo ainda existir em 2050, as crianças pedirão insistentemente para saber quem era Rita Lee Dropz. Os jovens vão correr atrás das músicas daquela rainha louca e feliz que não conhecia limites, que lançava perfume por toda parte. Uma ovelha negra que baila com quem quisesse com ela bailar.

Era livre para escolher ficar com Roberto de Carvalho, assim, com o nome completo, e para, avó, reapertar os parafusos que gostava de deixar soltos. No futuro, ninguém precisará dizer que não há mais Rita Lee, porque haverá. Para não passar por mentiroso, melhor será dizer que Rita Lee foi andando, sem pensar em voltar e nem ligar para o que lhe aconteceu.

Rita Lee pertencia à mesma corte que eu. Para cada momento de minha vida, da juventude em diante, havia uma música dela na minha playlist existencial. Ela andava lado a lado com Milton, Caetano e Gil. Fazia dueto com Elis, com Nara e com Betânia. Eu conseguiria escrever minhas memórias, tocando Rita Lee. A cada uma de suas encarnações discográficas haveria uma música ou uma letra que me remeteriam a uma parte de minha vida e me fariam lembrar melhor do que dizer e do que não contar.

Só os tolos achavam a música de Rita Lee simples, música só para dançar. Claro que era música para dançar. Era Roque Enrow. Mas, ponha a playlist Rita para tocar e pare de dançar por um momento. Preste atenção nos muitos recados que ela dá. Com certeza você ficará mais experiente e feliz. Você perceberá que ela diz muita coisa que ninguém nunca falou. Porque Rita Lee era única para valer.

Há muitas formas de inteligência. Rita tinha várias delas, inteligência verbal, musical, existencial. Afinal, só uma pessoa com muita inteligência existencial atravessa os trancos e barrancos, os altos e baixos da vida e sai renovada e pronta para um novo ciclo e tudo viraria letra e música e seria cantado.

Ontem, não consegui escrever sobre Rita Lee. Sorry, Rita, emudeci. Fiquei só ouvindo você, até reaprender a falar.

Sorry, Brasil. Você ficou muito mais chato desde ontem, muito mais careta.

* Sérgio Abranches é sociólogo, cientista político e escritor. É autor de “Presidencialismo de coalizão”. 

#CULTURA
RITA LEE
MÚSICA