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Negligência criminosa na invasão dos Três Poderes

Desde o início da semana, golpistas indicavam sair da porta dos quartéis para repetir o que seguidores de Trump fizeram no Capitólio. A arquitetura dos três Poderes facilitou a invasão

Sérgio Abranches, para Headline Ideias
#INVASÃO8 de jan. de 233 min de leitura
Bolsonaristas invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto, em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Sérgio Abranches, para Headline Ideias8 de jan. de 233 min de leitura

A invasão do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto – as sedes dos Três Poderes da República – não foi espontânea, nem resultado de um rompante coletivo. Foi combinada e planejada nas redes bolsonaristas. Tem lideranças que podem ser facilmente reconhecidas.

Espantosa foi a insuficiência da segurança mobilizada pelo governo do Distrito Federal. A inércia no momento inicial da invasão anunciada e a disposição de efetivos de segurança para proteção das sedes dos poderes da República foi resultado da negligência conivente do governador do Distrito Federal e do seu secretário de Segurança o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.

É caso de intervenção federal, sem dúvida alguma. As cenas são claras. Policiais do GDF sorridentes, filmando e fotografando os invasores. O governo federal não pode vacilar na sua reação. Tem que ser proporcional aos crimes cometidos em série por pessoas e por autoridades.

São muitos os crimes

O objetivo desse ataque é criar um clima de desordem civil. Por trás, pode haver outros planos, mas estes não estão aparentes no momento. Podem ser revelados nas investigações posteriores. São muitos os crimes. Vários deles justificam intervenção federal pelo presidente da República. Basta um decreto.

Além da evidente prevaricação do governador e seu secretário de segurança, houve imprevidência do governo federal. Embora esteja nos seus primeiros dias, o governo tinha as informações e aceitou a opinião dos chefes militares, por intermédio do novo ministro da Defesa, que os acampamentos golpistas/terroristas deveriam ser retirados sem repressão e de forma gradual. Era caso, de usar as defesas da democracia contempladas pela Constituição e pelas leis, para desmobilizar esses grupos que tinham evidentes intenções violentas.

A arquitetura de Brasília facilita a proteção das sedes dos Três Poderes, exatamente porque são próximas, e sem qualquer obstáculo a um cerco policial. Mas, se as forças policias não estão posicionadas preventivamente, para impedir o avanço golpista, a mesma arquitetura que protege, facilita a invasão, como aconteceu.

Há provas de inação das forças de segurança

Há provas muito evidentes de inação das forças de segurança do governo do DF. Não se pode considerar que os responsáveis sejam apenas aqueles que depredam e invadem os prédios públicos mais importantes do governo federal. O governador, o secretário de segurança, o comandante da PM do DF são responsáveis por omissão conivente.

Há os que lideram de longe os golpistas, que se afastam covardemente da ação, os que financiam a presença dessa turba em Brasília desde outubro passado. Essa turba tem cúmplices, alguns deles investidos em funções públicas, outros covardemente distantes do país e outros deslocando verbas pessoais ou corporativas para financiar esse movimento.

Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto, em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Invasores no teto do Congresso Nacional, em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A falta de ações efetivas de contenção e de prisões, duas horas após o início das invasões é sinal grave da inércia das autoridades. Quanto mais tardar e quanto mais frouxa for a resposta a esses atos indefensáveis e intoleráveis, mais forças os golpistas terão.

A reação de todas as autoridades foi tardia. As autoridades do governo do Distrito Federal foram coniventes com a invasão anunciada. As sedes dos Três Poderes da República serem invadidas com essa facilidade mostra certo grau de alienação em relação ao que se passa nas ruas. Há uma distância política enorme entre dois verbos aplicáveis na segurança a invasões anunciadas: evitar e retomar. As autoridades não foram capazes de evitar e demoraram a retomar os prédios invadidos.

* Sérgio Abranches é sociólogo, cientista político e escritor. É autor de “Presidencialismo de coalizão”.

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